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  • Foto do escritorAnja Kamp

Educação severa ou educação permissiva?

Se você se sente em dúvida, angustiado ou pressionado a escolher entre uma e outra, pode ficar tranquilo: nenhuma das duas funciona.

A primeira, cria distância, ressentimento, solidão.

A segunda, cria angústia, insegurança, inadequação.

Nenhum dos dois cenários interessa, certo?

Então qual é o caminho?

Pessoalmente, gosto de ser amorosa e sei que é importante que eu seja firme. Uma educação amorosa e firme é um caminho que passa pelo centro – “centro” no sentido de “centrado”. Passa pelo coração, pelo bom senso, pela observação atenta de si mesmo e dos filhos: nos sentimos bem a respeito de nós mesmos? Somos razoavelmente felizes e saudáveis? Os laços que nos unem são de confiança (ou seja, sinto que posso expressar minha opinião, mesmo que seja diferente)? Meus filhos assumem as responsabilidades que lhes cabem nesta idade? Eles têm autoconfiança e autocrítica? Aprendem com seus erros?

A pergunta que me acompanha – o meu termômetro – é “Está funcionando pra mim? Está funcionando pra você?”. Se não estiver, temos que continuar procurando, conversando, negociando, ouvindo, falando, testando, tentando de novo. Até que funcione. Pra você e pra mim. Se apenas um de nós estiver satisfeito, ainda não está funcionando.

Não falo de satisfação absoluta – os absolutos não existem na vida real. Não existe “...e viveram felizes para sempre”, nem “nunca serei feliz”. Conseguimos sentir alegria em alguns momentos, tristeza em outros; alguns dias nos trazem ares de esperança, outros são acinzentados, pesados; sinto amor profundo em um instante e no outro, irritação e raiva. Seres vivos oscilam. A arte está em entender as oscilações – talvez evitar aumentar o tamanho da marola – e aprender a usar este movimento a nosso favor.

Se é a criança de 2-3 anos que tem chilique ou a de 7 anos que brigou com o melhor amigo e está com muita raiva ou muito triste “porque ninguém gosta de mim”, você não tem que escolher entre dar bronca (fazê-lo sentir-se culpado ou vítima) ou mergulhar junto na confusão e no desespero. O maior presente que você pode oferecer ao filho é dar segurança sem segurar; acalmar sem gritar (gritar “Calma!” costuma não acalmar); buscar tranquilidade em si mesmo para poder oferecê-la ao outro, para que se contagie positivamente. Na minha experiência, ser firme e amorosa funciona melhor e mais rápido.

Seu ou sua adolescente está de mau-humor? Dê-lhe tempo. Dê-lhe espaço. Ofereça seus ouvidos atentos. Lembre-se de como você se sentia nesta fase. Se você achava que a angústia da sua adolescência era por ‘culpa’ dos seus pais que não @ entendiam e que você seria um pai/uma mãe diferente – surpresa! A angústia faz parte da adolescência. Não é culpa de ninguém.

Não importa a idade do filho ou filha, a maior ajuda que podemos oferecer é: (1) nossa confiança de que não há nada de errado com eles por se sentirem assim; (2) nossa esperança – por experiência – de que isso também irá passar e (3) a tranquilidade de assistir tudo isso sem se desesperar (= eu dou conta de lidar com sua angústia, sua raiva, sua impaciência, seu mau-humor – não tem problema). A criança, o adolescente é ele/ela. Eu sou o adulto dessa história. E posso escolher permanecer centrado enquanto ele/ela passa pelo furacão.

Não perca energia com dúvidas sobre se é hora de ser firme ou se vai deixar passar (ser permissivo). Pergunte-se: como posso ajudar meu filho/minha filha a se sentir segur@, bem a respeito de si mesm@, confiante de que conseguirá vencer seus desafios? Como posso ajudar meu filho a se sentir amado/aprovado-na-sua-essência? Assim você poderá construir o ambiente emocional necessário para que ele também se centre, se acalme, se sinta bem.

Sou mais eficiente, mais criativa, mais paciente e generosa quando me sinto competente, aprovada, bem a respeito de mim mesma. As crianças também.

Isso não significa ‘passar-a-mão-na-cabeça’ e ‘deixar rolar solto’. Não é tolerar tudo. Muito pelo contrário!

Significa respeito a mim mesma, amor próprio, autocuidado. E, acima de tudo, estando centrada, consigo reconhecer mais facilmente que a confusão ou raiva do outro é DO OUTRO – não tenho culpa por isso, nem cabe a mim consertar isso.

Quando me mantenho centrada, consigo dar espaço e tempo ao outro. Ao invés de começar a discutir sobre quem está errado, quem tem culpa e descer a ladeira da raiva e da vergonha, posso autorizar o outro a sentir seja lá o que estiver sentindo e tomar um atalho de volta ao bem-estar. Tendo tempo e espaço, a criança ou adolescente se autorregula, se autoeduca, se centra.

E se estiver passando dos limites? Daí eu rodo a baiana, digo ‘Agora chega!’ e ‘Cada um pro seu quarto!’. Se eu tiver semeado muitos SIMs ao longo do caminho, meus esporádicos NÃOs terão efeito. NÃO é que nem antibiótico: se usar pra qualquer coisa, perde o efeito. Daí, na hora que eu precisar dele de verdade, será ignorado. Use com moderação. Ofereça SIMs sempre que possível. Não para ser boazinha/bonzinho, mas para ser estratégica/o.


Adoraria receber comentários seus – sobre se foi útil ou não –, assim como sugestões de temas para futuros artigos.


Até mais!


Anja Kamp

Psicóloga e Terapeuta Familiar


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