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Foto do escritorAnja Kamp

Veja se você se sente viva... de verdade!


Como é que a gente faz pra existir no meio de tanto barulho/

Parece que o mundo só sabe pisar no acelerador!

Não importa o quanto você faz, tudo que você pensa e organiza; não importa que você esteja cansada, e-xaus-ta, o mundo sempre pede mais.


Pede mais trabalho, mais atenção, mais empenho.

Tem que arrumar a casa, cuidar de criança, resolver o que vai cozinhar.

Tem que escrever relatório, atender cliente, pagar conta, aprender sobre investimentos.

Tem que decidir, verificar, comprar, se antecipar, planejar.

Tem que ler mais, estudar mais, fazer mestrado, saber citar nome de gente importante.

Tem que malhar mais, correr mais, ficar mais sarada, mais saudável, viver até os 100 anos. Sem rugas!


Tem que, tem que, tem que...

Será que um dia o mundo vai tirar o pé do acelerador e silenciar?

Por enquanto, parece que não.

Por enquanto, ele só grita “Mais!”.


Há um mês atrás me fizeram essa pergunta e ela tem me acompanhado desde então: como é que a gente faz pra existir no meio de tanto barulho?


Passei a observar o que me faz sentir viva.

A expressão que me vem é “com vagar”.

Adoro ela: “com vagar” tem um sabor fresco, que se dissolve na língua, escorre pelos dedos, brinca nos ouvidos, feito brisa suave, sem pressa de ir a lugar algum.


Percebi que quando faço algo com vagar é mais gostoso.

Qualquer coisa: regar planta, acariciar a filha, lavar a louça, dobrar a roupa, separar o lixo da reciclagem, tomar chá na xícara que escolhi a dedo, olhar olho-no-olho, dizer “Bom dia!” pra vizinha, perceber que as pitangas estão vermelhas, bordar uma flor no pano de prato, organizar as roupas no armário, ler o que escrevo... Com vagar... Ah! Que delícia!


Quando eu me movimento com vagar, eu existo de verdade. Porque me observo, me sinto. Quando levo 5 minutos para fazer algo que poderia ter feito em um, dá vontade de sorrir! Me sinto contraventora, rebelde, desobedecendo a lei do “mais e mais rápido”, afrontando a pressa do mundo.


Tô nem aí: eu quero é fazer com vagar!

Não é preguiça.

É escolha.

Escolha sábia, desconfio.


Porque o mundo, esse está sempre com pressa!

Pra chegar onde?

Dizem que é para terminar, completar, se liberar da tarefa recebida.

Acontece que, assim que terminar essa, virá outra.

Não acaba nunca!

Não existe descanso depois de fazer mais e mais rápido!

Só exaustão, frustração, correr para resolver o próximo item da lista...


Apesar de nos dizerem o contrário, o sentido da existência em si talvez não esteja no que fazemos, completamos, entregamos, apresentamos ao mundo voraz, que pede sempre mais.


O sentido está no sentir.


Pra sentir, é preciso desacelerar, colocar consciência, estar presente.

Pra sentir, é preciso existir com vagar.

Sem precisar chegar em algum lugar.

Se estou comigo mesma, sentindo o passo, a respiração, a pele de quem está ao meu lado, o cheiro do sol ou da comida gostosa; se saboreio o que está acontecendo aqui e agora, com vagar, eu existo agora, eu saboreio o agora. Não preciso de sentido – apenas sentir.


Não serei feliz quando as crianças crescerem, quando eu ganhar mais dinheiro, quando sairmos de férias. Ou aprendo a ser feliz agora ou seguirei infeliz mais adiante.


Escolho sentir e saborear o agora. Com vagar. Pode ser passando pano no chão, lavando panela, criando um novo projeto para o cliente, enviando e-mail.

O que eu fizer com vagar será prazeroso e daí eu consigo ser feliz agora.


Curioso, né?

Pra viver, é preciso parar.

Ou, pelo menos, ir com vagar.

Só assim a gente vê o pôr-do-sol, descobre que a coruja que mora do lado do parquinho teve filhotes, vê o coração que o filho desenhou pra gente e sente o carinho que o papel exala...


Quer experimentar?

Siga com vagar pelo seu dia.

Veja se você sente que está viva ... de verdade!


Anja Kamp

Psicóloga e Terapeuta Familiar


Foto: Eugenio Felix, em pexels.com


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